quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Os Anjos Cantam no Morro



 
Relato sobre a atuação da Polícia Militar de Juiz de Fora no Curumim Olavo Costa
através do “Coral Um Novo Tempo”

Por Leandro Barros Ribeiro
Coord. do Curumim Olavo Costa

Muito se discute a respeito de atuações alternativas da Polícia Militar em áreas de vulnerabilidade social, marcadas por grande incidência de violência e criminalidade. Dentre as muitas opiniões existentes, encontramos vertentes mais tradicionalistas, com viés notadamente repressor e punitivo, contudo, observamos também as correntes modernistas, preocupadas com as intervenções da força policial através de ações preventivas e socioeducativas, que visam antever situações conflitantes e de desequilíbrio social, para agirem no sentido de prevenir ou minimizar as consequências negativas provenientes de um convívio com as mazelas socioeconômicas.

Esta ação preventiva da Polícia Militar, principalmente focada para o público infanto-juvenil, seja através de participações em projetos escolares ou em atividades criadas pela própria instituição militar, vem ao encontro das necessidades modernas de aproximar o policial militar das comunidades em que atua, de forma a também integrá-lo neste convívio social e comunitário como um ator co-responsável pela construção de uma sociedade mais humana e mais justa, baseada em relações pacíficas e capazes de promover o desenvolvimento dos seres humanos, principalmente das novas gerações.

A Polícia Militar de Juiz de Fora, mais especificamente o Segundo Batalhão, através da Banda de Música, desenvolve  há um ano, o Projeto “Coral Um Novo Tempo” no Curumim Olavo Costa, atuando junto as suas crianças e adolescentes, com aulas de canto e musicalização. A proposta deste trabalho é mostrar que a força policial pode intervir na comunidade não somente como instância repressiva, mas também como uma alavanca solidária de paz e desenvolvimento. 

Para tal ação, muitos esforços foram feitos junto à alta direção da Polícia Militar em Juiz de Fora, em relação ao recrutamento de voluntários da banda de música para literalmente “tocarem” o projeto e, finalmente, atuações convincentes junto aos educandos do Curumim para conquista de credibilidade.

Como disse Raul Seixas em uma de suas músicas, “sonho que se sonha só é só um sonho, mas sonho que se sonha junto é realidade“, o “Coral Um Novo Tempo”  é uma prova real de que a comunhão de muitos sonhos com ações conscientes pode revolucionar a sociedade em que vivemos.
Os integrantes da banda de música da Polícia Militar, todas as quintas-feiras pela manhã, levam para os educandos do Curumim a
oportunidade de conhecerem mais detalhadamente o mundo da música e propiciam, desta forma, que através das aulas de canto sejam desenvolvidas as habilidades sociais tão importantes para a construção de um repertório de competências capazes de alavancar a vida saudável em sociedade, como empatia, civilidade, autocontrole e expressividade emocional.

A música tem profundos efeitos na alma humana e pode criar estados permanentes de ânimo, suscitando boas idéias e bons pensamentos. Tinham então muita razão os principais filósofos gregos ao darem à música um notável e importante papel na educação e formação dos jovens. Aristóteles dizia que “pelo ritmo e pela melodia nasce uma grande variedade de sentimentos, e que a música pode ajudar na formação do caráter“.

Platão é ainda mais claro, quando no diálogo “REPÚBLICA“, diz que “a maioria das pessoas não percebe que a música tem o poder de mudar o coração dos homens e que assim, pouco a pouco, molda a sua mentalidade. Mudando as mentalidades, a música termina por transformar os costumes“.

Para Platão, a educação musical é muito poderosa porque permite introduzir na alma da criança, desde a mais tenra infância, o amor à beleza e à virtude. A pessoa mais bem educada musicalmente, mais facilmente perceberia a beleza e a harmonia, e como não há amor sem ódio,segundo Platão, ela também odiaria as coisas más.

Fazendo uma analogia com as palavras de Platão, podemos dizer que os policiais voluntários da Banda de Música do Segundo Batalhão de Juiz de Fora, ao atuarem com o Projeto “Coral Um Novo Tempo”, na Vila Olavo Costa, uma área classificada pela Secretaria de Assistência Social como de “especial interesse social,devido a inúmeros problemas decorrentes da vulnerabilidade”, estão, como diz este filósofo, “contribuindo para a proteção, como guardiões, impedindo que os jovens, como anjos, cresçam rodeados de imagens somente de depravação moral, como que a alimentá-los de uma erva má que houvesse nascido aqui e ali, em pequenas quantidades, mas, dia após dia, de modo a introduzirem, sem se aperceber disso, uma enorme fonte de corrupção em suas almas“.

O Coral “Um Novo Tempo”, do Curumim Olavo Costa é uma não aceitação do mal, do vício, do absurdo do crime e da monstruosidade. É um antídoto poético ao que também alertou em poema Alexander Pope: “O vício é um monstro de aspecto tão horrível que basta vê-lo para detestá-lo. Mas olhá-lo por demais, acostuma-nos com seu rosto. Tolerado inicialmente, sem seguida nos dá pena. Por fim…se o abraça“.

Há exatamente um ano, a semente da atitude contra a omissão foi plantada. Semente de um sonho sonhado com os pés bem plantados no chão, como diz César Souza em seu livro “Você é do tamanho dos seus sonhos“. Hoje, começamos a ver os frutos resplandecerem, doces.
As melodias entoadas pelas crianças devem revigorar, nos céus dos deuses, os ouvidos de Aristóteles e Platão. A cada nota devem sorrir, mais uma vez contentes por sua certeza imortal.
 
Podem acreditar.
Os anjos cantam no morro.

NOTA: Sinceros agradecimentos aos policiais militares da Banda de Música da Polícia Militar de Juiz de Fora, guardiões de nossos anjos cantantes: Tenente Garcia, Sargento Willians Martins, Sargento Neulimar e Sargento Paulo Silva.

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