Colaboração Regina Caeli/
Diretora-Presidente da AMAC
Diretora-Presidente da AMAC
Vinte e cinco de maio comemora-se o dia da adoção e esta data foi instituída
por uma Lei Federal em 2002, com o objetivo de promover mais reflexão
sobre o tema. E como estou vivendo o momento de acolhida de uma
adolescente em minha família, decidi compartilhar com mais pessoas a
minha experiência.
O desejo de ter filhos sempre
fez parte dos meus projetos de vida, desde muito cedo. Eu ainda não
tinha clareza da profissão que escolheria, embora soubesse que
queria atuar na área das ciências humanas, mas eu tinha certeza que
teria filhos, biológicos, ou não. Penso que a premissa para quem
quer ter filhos é o desejo de cuidar, com amor.
Casei-me e, embora eu não
usasse nenhum método contraceptivo, os filhos não chegaram
naturalmente e então eu e meu marido decidimos recorrer à um
especialista. E o resultado veio rapidamente: Deus nos presenteou com
uma menina, hoje com 16 anos. Mas eu sempre sonhei com três filhos,
então eu passei a acalentar o desejo de ter mais, ainda que fosse
gerado por outros casais.
Este sonho sempre foi divido
com meu marido e minha filha e, aos poucos, quase sem perceber, fomos
delineando algumas condições que atenderia às expectativas de
todos: eu e meu marido queríamos uma menina, recém-nascida, que não
conhecêssemos os pais e que não tivéssemos nenhum contato com
eles; já a minha filha queria uma menina com idade próxima à sua e
que pudesse fazer-lhe companhia.
Eu esperava aposentar-me para
poder concretizar o meu sonho. Mas nem sempre os nossos planos
coincidem com os planos de Deus, para minha felicidade e da minha
família. Há 4 meses eu visitei uma instituição de acolhimento e
conheci uma adolescente de 12 anos. Há um mês ela esta residindo
conosco.
Suas características físicas se aproximam com as de minha
família, faz aniversário no mesmo mês que meu marido, tem um
temperamento forte, é alegre, educada, espirituosa, vaidosa; mas é
uma adolescente e, tal como a irmã da sua nova família, quer ter
reconhecimento, quer expor suas ideias, quer fazer prevalecer sua
opinião, pois afinal, “já não é mais criança e sabe se
cuidar”, e por isto é necessário estar sempre conversando e
interpretando o significado do sim e do não. E as reações são as
mesmas da “irmã mais velha”: tá bem, mãe foi mal, ou então:
poxa que droga, não concordo com isto! e emburra. Mas depois que
passa o mau humor a gente volta a conversar sobre o que aconteceu e
as atitudes vão mudando pouco a pouco.
Está sendo agradável, apesar
de desafiador, pois identificamos valores transmitidos pela “outra
mãe” ( que está sempre presente nas falas dela) e há também
atitudes aprendidas que podem e devem ser lapidadas e nós estamos
trabalhando nesta construção. Afinal, assim é também com a nossa
filha mais velha, que traz situações vividas fora da família que a
fazem questionar atitudes minhas ou atitudes do pai. E as orientações
e as explicações vão sendo dadas na expectativa de que sejam
entendidas, internalizadas e consolidadas para que ela se torne uma
pessoa adulta feliz, e que saiba fazer as escolhas com as quais possa
se realizar.
A ideia que eu tinha
anteriormente de que uma criança adotada desde o nascimento seria a
melhor opção, vem sendo substituída pela convicção de que, com
diálogo e com dedicação e respeito, não importa a idade, é
possível construir na convivência diária uma relação de muita
afetividade.
Ter ouvido a minha filha que
queria uma menina que pudesse ser a sua irmã mais nova, contribuiu
em muito para que meu marido e minha filha compartilhassem comigo
deste sonho e, agora, juntos, temos sido uma família mais feliz.