sexta-feira, 25 de maio de 2012

UM DEPOIMENTO SOBRE ADOÇÃO TARDIA


 

Colaboração Regina Caeli/
Diretora-Presidente da AMAC

 

Vinte e cinco de maio comemora-se o dia da adoção e esta data foi instituída por uma Lei Federal em 2002, com o objetivo de promover mais reflexão sobre o tema. E como estou vivendo o momento de acolhida de uma adolescente em minha família, decidi compartilhar com mais pessoas a minha experiência.

O desejo de ter filhos sempre fez parte dos meus projetos de vida, desde muito cedo. Eu ainda não tinha clareza da profissão que escolheria, embora soubesse que queria atuar na área das ciências humanas, mas eu tinha certeza que teria filhos, biológicos, ou não. Penso que a premissa para quem quer ter filhos é o desejo de cuidar, com amor.
 
Casei-me e, embora eu não usasse nenhum método contraceptivo, os filhos não chegaram naturalmente e então eu e meu marido decidimos recorrer à um especialista. E o resultado veio rapidamente: Deus nos presenteou com uma menina, hoje com 16 anos. Mas eu sempre sonhei com três filhos, então eu passei a acalentar o desejo de ter mais, ainda que fosse gerado por outros casais.
 
Este sonho sempre foi divido com meu marido e minha filha e, aos poucos, quase sem perceber, fomos delineando algumas condições que atenderia às expectativas de todos: eu e meu marido queríamos uma menina, recém-nascida, que não conhecêssemos os pais e que não tivéssemos nenhum contato com eles; já a minha filha queria uma menina com idade próxima à sua e que pudesse fazer-lhe companhia.
 
Eu esperava aposentar-me para poder concretizar o meu sonho. Mas nem sempre os nossos planos coincidem com os planos de Deus, para minha felicidade e da minha família. Há 4 meses eu visitei uma instituição de acolhimento e conheci uma adolescente de 12 anos. Há um mês ela esta residindo conosco. 

Suas características físicas se aproximam com as de minha família, faz aniversário no mesmo mês que meu marido, tem um temperamento forte, é alegre, educada, espirituosa, vaidosa; mas é uma adolescente e, tal como a irmã da sua nova família, quer ter reconhecimento, quer expor suas ideias, quer fazer prevalecer sua opinião, pois afinal, “já não é mais criança e sabe se cuidar”, e por isto é necessário estar sempre conversando e interpretando o significado do sim e do não. E as reações são as mesmas da “irmã mais velha”: tá bem, mãe foi mal, ou então: poxa que droga, não concordo com isto! e emburra. Mas depois que passa o mau humor a gente volta a conversar sobre o que aconteceu e as atitudes vão mudando pouco a pouco.

Está sendo agradável, apesar de desafiador, pois identificamos valores transmitidos pela “outra mãe” ( que está sempre presente nas falas dela) e há também atitudes aprendidas que podem e devem ser lapidadas e nós estamos trabalhando nesta construção. Afinal, assim é também com a nossa filha mais velha, que traz situações vividas fora da família que a fazem questionar atitudes minhas ou atitudes do pai. E as orientações e as explicações vão sendo dadas na expectativa de que sejam entendidas, internalizadas e consolidadas para que ela se torne uma pessoa adulta feliz, e que saiba fazer as escolhas com as quais possa se realizar.

A ideia que eu tinha anteriormente de que uma criança adotada desde o nascimento seria a melhor opção, vem sendo substituída pela convicção de que, com diálogo e com dedicação e respeito, não importa a idade, é possível construir na convivência diária uma relação de muita afetividade.
 
Ter ouvido a minha filha que queria uma menina que pudesse ser a sua irmã mais nova, contribuiu em muito para que meu marido e minha filha compartilhassem comigo deste sonho e, agora, juntos, temos sido uma família mais feliz.

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